Desenhos

21.2.07

Álvaro de Campos

Não sei. Falta-me um sentido, um tato
para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
ou qualquer fato?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
é tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Tenho uma grande constipação,
e toda a gente sabe como as grandes constipações
alteram todo o sistema do universo,
zangam-nos contra a vida,
e fazem espirrar até a metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excuez un peu...Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.

2 comentários:

Anônimo disse...

'Preciso de verdade e de aspirina.'

Adorei essa frase por causa do conteudo do poema.
Ouso dizer que: Os espelhos da vida são refletidos em nossas "almas", digamos assim, e nunca o contrário. Já os espelhos do mundo(do homem)só conseguem refletir nossos corpos.
Se quisermos ter um amigo é preciso também lutar por ele, e para lutar é preciso poder ser inimigo. No amigo deve-se vislumbrar o melhor inimigo.Quando lhes resistes, é então que mais se apriximas de seu coração.
Aquele que não faz nenhum mistério de si mesmo irrita.
Que tua compaixão seja uma arte de advinhar para saber, antes de tudo, se teu amigo quer compaixão...Mas, esclarecendo minha humilde teoria, crucifiquem-me os que conseguirm provar que, quando te olhaste neste espelho(poema), tiveste a sensação de que o tinhas escrito. Como se te olhastes dos pés a cabeça no espelho do homem.
Eis minhas confusões. Nada em rima, nada demais, como sempre dizem sobre minhas palavras escritas.
Eu não sei me conter não é?
Dê-me vinho,eu bebo tudo
e jogo a garrafa vazia no mundo.
Mostre-me Nosso Senhor Jesus em agonia...
e subo na cruz,tiro seus pregos
e os coloco em minhas mãos.

Anônimo disse...

crenças dissolvidas no ratinho!caos na tv global do inperador roberto marinho, filho pai e espirito santo!eis os últimos dos martíres de alalaóóó!atravessando o deserto serás saciado com a besta em forma de frevo,e verás a luz multiforme de um oásis de pura mediocridade ululante e bundante demais para ser sabrina sato!