Desenhos

8.3.07

Posse do Passado

Sei que perdi tantas coisas que não poderia contá-las e que essas perdições, agora, são o que é meu. Sei que perdi o amarelo e o negro e penso nessas impossíveis cores como não o pensam os que vêem. Meu pai morreu e está sempre ao meu lado. Quando quero escandir versos de Swinburne, o faço, me dizem, com sua voz. Só o que morreu é nosso, só é nosso o que perdemos. Ilion foi, mas Ilion perdura no hexâmetro que a carpe. Israel foi quando era uma antiga nostalgia. Todo poema, como o tempo, é uma elegia. Nossas são as mulheres que nos deixaram, já não sujeitos à véspera, que é naufrágio, e aos alarmes e terrores da esperança. Não há outros paraísos a não ser os paraísos perdidos.

Jorge Luis Borges ( do livro Os Conjurados )

Nenhum comentário: