...Nunca fui senão uma criança.
Fui gentio como o sol e a água,
de uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
nem procurei achar nada,
nem achei que houvesse mais explicação
que a palavra explicação não tem sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –
Ao sol quando havia sol
e a chuva quando estava chovendo
(e nunca a outra coisa),
sentir calor e frio e vento,
e não ir mais longe.
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão –
Porque não tinha que ser.
Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
e sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os são amados
como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.
Fernando Pessoa
27.5.08
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Um comentário:
que lindo, Eduard!!!!
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